Olá gente, este blog surge da vontade de registrar e compartilhar esse projeto de estudos em máscaras teatrais com quem tiver interesse. Portanto, a cada semana publicaremos o diário de bordo dos encontros a partir de nossas anotações e pensamentos sobre o que é disparado nas aulas. Esperamos que faça algum sentido para todes nós, pesquisadores das máscaras. Boa leitura.
-Jeanne e Sid.
2ª semana 21 e 22/08/2021
Persephone Pepper:
Escrevo este relato um mês depois do acontecido, tal como o último diário de bordo. Eu e Sid estamos revisitando a gravação da aula e lembrando da sensação gostosa que era estar sob a condução generosa de Cláudia Sachs. Abaixo reflito sobre o que aconteceu especificamente em cada dia.
21:
Primeiramente, ao retomar as atividades, o foco foi observar as máscaras. Observar e procurar as linhas que a escultura favorece. Com o distanciamento de um mês, vendo a experiência através do vídeo, percebo que tudo é questão de animar a forma. Teatro de Formas Animadas. É mais fácil falar do que fazer, sempre, mas percebo que é essa a chave que precisa ser "girada" no corpo. No meu corpo. Que o foco da cena é a máscara e como ela se movimenta em cena; o tronco e os membros são acessórios. Não que não tenham importância. Com os membros e o tronco consegue-se executar ações físicas importantíssimas para o desenvolvimento de qualquer cena, mas o que dá sabor à cena é o objeto-máscara parecer vivo: com a respiração e com as rotações e translações de cabeça. Mais perto do tempo presente, a colega do curso Flávia comentou sobre uma relação triangular do peito com os dois olhos... penso que o triângulo não é o melhor diagrama pra entendermos qual corpo que anima o objeto, mas hoje eu entendo um pouco melhor do que se trata isso que ela disse. A relação cabeça-pescoço-peito, uma vez que a dramaturgia está posta, é essencial pra máscara ter vida, ter charme... e isso não pode ser racional, é uma técnica corporal.
Alguns procedimentos muito objetivos que fizemos no dia 21 foram testar os limites da
fronteira do vídeo, digo da câmera. Onde estão nossas possibilidades com uma webcam? Depois disso, Testamos a máscara em relação à webcam, ou seja, a partir da máscara que possuímos, quais são as angulações possíveis de serem executadas sem expor demais o que está debaixo da máscara? Se tem algo que ouvimos muito nesse curso foi "cuidado pra não perder a máscara!" O principal motivo é que as máscaras que confeccionamos por vezes não tinham cobertura suficiente para os lados do rosto. O teatro de máscara é extremamente visual e há coisas que simplesmente não apetecem os olhos, como ver demais o elástico ou quando o rosto se vira tanto que a pele vence na proporção máscara-pele.
Testando as propriedades do movimento da máscara citadas acima, fizemos exercícios de buscar objetos imaginários de fora do campo da webcam, nos relacionarmos com ele e devolvê-lo ao lado de fora do campo. Primeiro bem perto da câmera, depois com corpo inteiro.
22:
No dia seguinte, começamos com relaxamentos, alongamentos, dança. Depois migramos pra uma prática sobre os 7 níveis de tensão do corpo em cena.
São eles:
Subdescontração
Descontração
Economia
Firmeza
Atenção
Irritação
Asfixia
O exercício consiste em andar pelo espaço, agir e gestualizar sob o efeito destes estados, que são narrados/detalhados pela condução. Sobre esse exercício:
Com esse exercício percebemos 7 possibilidade muito diferentes de tensão do corpo que podem ser usados em cena. Ele é fantástico para adicionar vocabulário ao corpo de quem atua. Tanto para criação isolada, mas também para a comunicação direção-atuante.
O exercício seguinte foi sobre descobrir a lógica de nossas máscaras. Andando em diagonais no espaço e nos relacionando com a câmera, respondíamos a estímulos da condução. Como por exemplo: como é essa máscara se sentindo bem?, se sentindo mal?, se sentindo a maioral?, dançando?, se sentindo forte?...
Depois veio um exercício derivado. As máscaras entram em cena e a Cláudia sugeria situações através de áudio, como a presença de um pássaro. Como concretizamos o corpo que vê o pássaro, que se aproxima, que toca, que interage, que põe de volta a voar? Outras provocações foram, por exemplo: como é a máscara irritada?, como é ela dançando?, como é ela se sentindo atlética?
Em dupla foi proposto o jogo de reagir à condução que narrava a relação de uma câmera e outra, como se fossem vizinhos. Este foi muito rico. Em diálogo com o que os atores propunham, a condução desenvolve uma criatividade própria pra cada cena.
Por último brincamos de abrir caixas com diversos objetos dentro. Esse é literalmente uma caixinha de surpresas! Muita coisa boa foi descoberta nesse jogo e poderá ser vista em cena em vídeo em breve.
Por fim, medito sobre como a linguagem da máscara é mesmo muito difícil e só pode funcionar com um olhar externo. Viva às parcerias, sem elas é impossível fazer teatro e, muito menos, teatro de máscaras. Viva o LEMVI e viva a minha parceria com o Sid!
Sid Ditrix:
Durante a semana fui me nutrindo de leituras e vídeos sobre o jogo da máscara e como ele funciona. Destaco o livro “The Mask Handbook” de Toby Wilsher, que Claudia mencionou em um encontro, e o vídeo “Handle With Care” da Moving Picture Mime Company.. Destaco o livro pois sua linguagem é de fácil entendimento e ele traz sem rodeios aspectos muito importantes da atuação no jogo com a máscara, que até já haviam sido mencionados nos encontros com Tiche, mas é sempre bom recuperá-los. O vídeo já traz alguns elementos que nos foram apresentados pela Claudia de uma maneira bem visual. Vimos no jogo das máscaras contracenando, os vetores que as máscaras propunham sendo aplicados pelos personagens, e conceitos como: a economia dos movimentos e gestos para dar vez aquilo que é extremamente necessário em cena, o foco e interesse de cada máscara… O jogo não possuía triangulação, porém isso se dava porque a proposta era um vídeo, acredito que por isso o público não era levado em consideração.
No segundo final de semana já iniciamos com uma proposta prática. Partimos primeiramente da observação das linhas e vetores que cada máscara propunha. As máscaras por si só sugerem linhas e volumes, um humor ou um “estado de espírito” que podem ser usados pela atriz e ator para construção de seu corpo, movimento, velocidade e ritmo.
Olhando para minha máscara (vulgo rabisco acima) ficava em dúvida de como sair da proposta fixa de emoção que a máscara me parecia ter. Como propor algo além dessa tristeza/desânimo que a máscara demonstra?
Percebi que como a máscara era estreita e alongada ela propunha linhas vetores ao mesmo tempo para baixo e para cima. A boca também sugeria um movimento da coluna para baixo, como que para demonstrar esse desânimo. Os olhos também jogavam, propondo um vetor para dentro, já que a máscara possui um aplainamento ao redor do buraco dos olhos, o que me propunha esse jogo de movimentação no pescoço.
Bem, depois que analisamos as linhas de cada máscara partimos para um breve “azeitamento” das articulações do corpo e fizemos um primeiro experimento com a máscara, entrando no espaço cênico capturado pela webcam de cada participante. Como cada máscara realiza esse primeiro “ataque” de entrada de cena? Como ela caminha? com que ritmo? que velocidade?
Esse encontro focou principalmente em perceber os limites de cada máscara nesse jogo de relação frontal com o público através da Webcam.
Também foram realizados exercícios que buscavam trabalhar a triangulação da máscara a partir da relação com objetos imaginários e reação da máscara a eles. O exercício se dava por agarrar alguma fruta de várias direções pelo espaço e “reagir a isso” e devolver ou descartar ela.
Tudo isso em um primeiro momento era confuso e difícil. Como transmitir o que se passa à máscara com o corpo e com poucos movimentos? Como fazer a máscara olhar de verdade para essas frutas e reagir a isso? Nesse momento me veio o clique que mais tarde entenderia com mais profundidade, a máscara acontece na sua relação com as coisas à sua volta. A conhecemos quando vemos sua forma de se relacionar com o espaço, com objetos e com outras máscaras.
Outro exercício que experimentamos nesse final de semana foi uma improvisação onde nos relacionamos com uma caixa e objetos aleatórios que ela carregava. Realizamos a primeira improvisação Jeanne e eu, e foi muito interessante perceber como no jogo com outra máscara começaram a surgir esses momentos de descobertas em como a máscara se relaciona com as coisas que cruzam o seu caminho. E de que maneira o corpo e esses vetores começaram a aparecer mais no jogo improvisado. Outra coisa importante de se ter em conta é a economia de movimentos. Buscar passar o que acontece internamente com a máscara com a quantidade mínima de movimentos, para produzir uma leitura mais “limpa” ao público. Bem, revisitando o vídeo se pode ver vários momentos que podem ser trabalhados para se chegar em um trabalho de corpo mais preciso.
Foi passado uma tarefa para que cada pessoa ou dupla trabalhasse em uma improvisação com a caixa e seus elementos durante a semana e gravasse uma cena, para ser analisada no próximo encontro. Bora trabalhar!
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