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Diário de Bordo - Máscara Larvária com Claudia Sachs






Olá gente, este blog surge da vontade de registrar e compartilhar esse projeto de estudos em máscaras teatrais com quem tiver interesse. Portanto, a cada semana publicaremos o diário de bordo dos encontros a partir de nossas anotações e pensamentos sobre o que é disparado nas aulas. Esperamos que faça algum sentido para todxs nós, pesquisadores das máscaras. Boa leitura.


-Jeanne e Sid.

Dias 1 e 2


Acho que o primeiro ponto que marca o início desse módulo de estudos é a constatação pessoal- e que vários colegas e companheiros de curso se identificam- da inércia e falta de atividade física e teatral - pelo menos da maneira que éramos habituados. Durante as primeiras atividades práticas corporais do encontro, eu senti meu corpo pesado e desacostumado. E ele de fato estava mais pesado. Era como se lhe faltasse lubrificação nas articulações e todo movimento que eu fazia lhe custava mais do que o normal para ser feito.


Entretanto, estar ali, naquele espaço virtual e pedagógico me animava. Ainda mais com a condução da professora Claudia Sachs, com mais de 20 anos de pesquisa em teatro, que participou da escola de teatro internacional de Jacques Lecoq e que investiga a bufonaria e a pedagogia de Lecoq…


O primeiro dia de encontro foi destinado a apresentação das participantes e da metodologia que seria adotada pela professora. Fico feliz com um grupo tão diverso e com a presença de pessoas de vários lugares do Brasil, o que só foi possível pela execução virtual do projeto. Ouvimos sobre a origem da máscara como ferramenta pedagógica no teatro com Copeau e sua escola, a Vieux Colombier e toda herança que através de sua filha Marie-Helene, Jean Dasté e o próprio Jacques Lecoq foram difundidas ao redor do mundo.


“As máscaras são uma arte popular pela simples razão de que são imediatas e sua conexão com seu público ultrapassa as fronteiras culturais e salta os séculos” The Mask Handbook de Toby Wilsher


As máscaras larvárias surgem com Jacques Lecoq, depois de uma viagem pela cidade de Basel, na Suíça. Ele as encontrou em um desfile de carnaval, as levou para sua escola e as adaptou para servirem a seu propósito pedagógico. São máscaras sem traços muito definidos, normalmente com linhas redondas e circulares e de tamanho maior do que um rosto comum. O ator e a atriz guiam seu jogo com a máscara pelas linhas e volume que ela propõe. As máscaras propõem um humor ou estado emocional e cabe ao manipulador colocar forma a esse movimento. Mas como? Como acompanhar o movimento da máscara? Bora experimentar!!


O segundo dia foi de atividades práticas. Iniciamos o trabalho já por aquecer todas as articulações e buscar a concentração para o que viria. Fomos guiados em um exercício que vejo como um exercício de máscara neutra, pela sensação de ser os 04 elementos na natureza. Buscar a “paisagem em mim” que Tiche falou nos encontros da máscara neutra. Como é a sensação de ser água do mar em mar aberto onde tudo parece mais quieto? Qual a sensação do seu peso, qual seu movimento? E como essa água se transforma ao aproximar-se da costa e ‘quebrar em uma onda’ ? E como é ser água de uma lagoa, barrenta que de a poucos se transforma em lodo argiloso até que seca e vira uma rocha? E ter raízes e ser uma árvore majestosa sentindo a brisa de um vento agradável que balança seus galhos e folhas? A paisagem em mim… o que acontece comigo e meu corpo com essa riqueza de imagens?


O encontro terminou com a promessa do encontro com a máscara larvária na próxima semana! Bora ler, se exercitar e se preparar para a próxima semana.


-Sid Ditrix


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Relato este fim de semana de aulas um mês depois do acontecido, eu sei, tem atraso, mas aqui tentarei refletir a respeito do que me foi mais interessante do começo do curso de máscaras larvárias com Cláudia Sachs.


Dia 1


Cláudia Sachs, além de ex-aluna de Jacques Lecoq, é pesquisadora de seu método e é responsável por ser uma das trazedoras dessa tradição/desse conhecimento da França para o Brasil. Quando ela estava em contato com o professor, há pouco havia sido lançado o livro O Corpo Poético e pouquíssimo havia sobre o assunto em português. O prmeiro dia de aula, além de muita troca verbal (quem nós somos, nossas paixões e etc.), foi uma exposição via PowerPoint de pontos fundamentais teóricos para começar o trabalho.


Um nome citado, que bastante me chamou atenção e que pode ser fundamental também para falar-se de máscaras larvárias no Brasil, é Daniela Carmona. Fica a memória para quem estiver lendo ou para mim mesma.


Mas seguindo: Lecoq faz parte de uma linhagem de ensino de teatro, do qual, talvez façamos parte também (risos), Copeau ensinou Lecoq, que ensinou Sachs que me ensinou, mas também já estive em aula de outros "descendentes". Mas isso não importa muito, o que quero evidenciar é que tudo isso faz parte de uma tradição francesa de comediéns. Aproveito a informalidade deste tipo de escrita para admitir que não lembro onde li, acho que foi em Dario Fo ou Elizabeth Pereira Lopes, sobre a diferença ente acteur e comedién na França. São habilidades distintas. Enquanto (traduzindo) atores são os da emoção, do cinema, do realismo stanislavskiano e etc., comediantes são os do teatro teatral, da convenção, das estripulias, das acrobacias, das caretas, vozes, da tradição não realista e, logo, ligados a linguagem das máscaras. As máscaras larvárias não são uma tradição antiquíssima no teatro, são de manifestações carnavalescas europeias; as originais eram pintadas, já as que Lecoq decidiu por colocar em cena na sua escola, brancas. Elas são "larvárias" porque (há controvérsias) são a "larva" de um caráter. Eu gosto de situá-las numa linha progressiva de neutralidade à expressão, ao lado das neutras, em direção à complexidade humana. Ou seja, não são específicas demais, mas não são neutras. São expressivas na sua simplicidade.


-corte-


uma anotações de meu caderno ⤵

PRINCÍPIOS DO MOVIMENTO, SEGUNDO JACQUES LECOQ:

  • neutralidade

  • ponto fixo

  • (des)equilíbrio

  • compensação

  • alternância

  • apelo*

  • ritmo

  • expansão e redução

  • espaço

* "Apelo" é uma tradução imperfeita, mas é o mesmo que Meyerhold chama de otkaz, é a tomada de impulso, a preparação.


SOBRE O PONTO FIXO

  1. não existe ação sem reação

  2. o movimento é contínuo, nunca para

  3. o movimento sempre origina de um desequilíbrio

  4. o equilíbrio está ele mesmo em movimento

  5. não há movimento sem ponto fixo*

  6. movimentos sublinham o ponto fixo

  7. o ponto fixo também está em movimento

* Tem muito a ver com a teoria da relatividade de Einstein.


Dia 2

O segundo dia do curso realmente foi começar a por a mão na massa. Ou o corpinho pra jogo.

Fizemos um exercício no início que me lembrou um parecido que fiz certa vez em uma oficina do grupo Desembargadores do Furgão, a experimentação dos elementos da natureza dentro de um corpo imaginariamente poroso/oco/absorvente.

  1. Mar

  2. Lago

  3. Lodo

  4. Areia

  5. Barro

  6. Pedra

  7. Árvore

  8. Vento

  9. Tempestade

  10. Fogo

A versão que eu conhecia do exercício não era em ciclo, era quase que em "capítulos" dos quatro elementos, ou seja, o fogo não era só fogo: era faísca, centelha, brasa, labareda, fogueira pequena, depois grande, enorme, uma explosão, fagulhas remanescentes no ar e por fim as cinzas. Essa gradação pensada também em Água, Terra e Ar também. Cláudia apresentou outra forma, em ciclo, em transmutação alquímica.


Outro exercício também trabalhado é uma ginástica pro corpo que vai usar máscara. Seu apelido é travelling.

  1. Base aberta tipo posição do cavalo (Ma Bu), mas somente aberta o tanto que não atrapalhe o exercício;

  2. Alternadamente, uma perna estica e o corpo viaja de um lado para o outro. Imagine o umbigo desenhando linha horizontal perfeita, não cai nem sobe. A coluna permanece ereta.

  3. Assim que esse movimento já estiver bem entendido, adicione a sequência: olha, vai, gira. Ou seja, olhe para o lado que o corpo se deslocará, se desloque e só então o tronco gira na mesma direção que o rosto. Olha, vai, gira, olha, vai, gira, olha, vai, gira, olha, vai, gira, olha, vai, gira...

Entendo que o travelling, em um combo, tonifica as coxas, exercita o foco da máscara e destaca/quebra o bloco cabeça-tronco. Acho que seria bom praticá-lo o tempo todo...


-corte-

Cláudia cita um espetáculo que foi bem marcante se tratando de larvárias no Brasil:


Olhamos para nossas máscara e nos questionamos: qual ritmo e qual direção as máscaras sugerem. Pra mim é bem por aí: como animamos essas linhas escultóricas?


A máscara larvária descobre o mundo, mas não necessariamente o entende. Ela pode ser inconstante e potencialmente anárquica de forma cativante. Mas a característica marcante é o apetite por jogo e brincadeira.

O jogo com larvárias é:

+ sensibilidade

- precisão

+ jogo

- exatidão

Um espaço outro de discurso.


Por fim, testamos o uso da webcam. Ou seja, se o digital é nosso palco, precisamos saber os seus limites. Onde é coxia? Onde é centro? Proscênio?


Faça esse teste em seu espaço:

Veja de onde até onde dá pra te ver e como te veem?



- Jeanne Martins Speckart

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