Olá gente, este blog surge da vontade de registrar e compartilhar esse projeto de estudos em máscaras teatrais com quem tiver interesse. Portanto, a cada semana publicaremos o diário de bordo dos encontros a partir de nossas anotações e pensamentos sobre o que é disparado nas aulas. Esperamos que faça algum sentido para todes nós, pesquisadores das máscaras. Boa leitura.
-Jeanne e Sid.
2ª semana - 18 e 19/09/2021
Sid: O segundo final de semana veio com a criação dramatúrgica de pequenas cenas de cada participante. Para isso Fábio nos separou em duplas ou trios para criação e auxilio das cenas. Minha dupla foi Jeanne.
Durante o primeiro dia nos dedicamos a construção da sua cena. Como observador da cena de Jeanne é muito interessante perceber esse jogo que ela fez usando uma máscara de criança. De como o seu corpo se modifica para interpretar essa personagem e de como é nítido o momento em que o pensamento da atriz começa a transparecer e se adiantar ao pensamento da máscara. É preciso estar imerso no mundo dessa máscara, o pensamento deverá ser ação para que possamos ser ao invés de atuar.
É complexo jogar com todos os elementos que viemos trabalhando durante esse laboratório, o foco-interesse-ação, a relação cabeça e torso (respiração e movimento da nuca estão inseridas nesse aspecto), o monólogo interno, e outros aspectos que no momento não me vem a mente trabalham concomitantemente para trazer a máscara a vida, com aquela sensação de magia em animar algo que a momentos atrás estava apoiada no chão ou em cima de uma mesa.
No segundo dia foi a construção da minha cena individual, e lembro que fui para a casa de Jeanne (que estava sendo o nosso local de aulas durante o laboratório) sem ideias sobre o que seria a minha cena. Apenas levei algumas peças de figurino e um jornal. A máscara que eu estava usando ao longo do processo é uma máscara que foi esculpida por mim e a apelidei de "Snape" por ser baseada no rosto e na expressão do ator que interpretava esse personagem.
Quando iniciamos a construção da cena eu desejava falar sobre isolamento e solidão e essa amargura que a expressão da máscara me passava quando olhava para ela. Era a história de um homem que chegava em casa, onde vivia sozinho, e preso em sua rotina esperava um telefonema que nunca chegava. Ensaiei algumas vezes durante esse dia os principais momentos e tempos da cena e do personagem e lembro de que o ritmo que estabeleci no geral era todo muito lento. Era um homem que estava quase cristalizado no tempo e na sua solidão e isso se mostrou no ritmo da cena. Saí do encontro pensando que tinha que achar um escape cômico para que trouxesse uma outra energia e ritmo para cena. Taí o desafio para a próxima semana.
Persephone:
O segundo final de semana foi de criação de embriões de cena e, melhor que explicar, é mostrar:
No dia seguinte começamos a criar a cena da minha dupla que me ajudou, o Sid. Mas vou contar mais sobre a criação da minha cena. Eu sempre gosto de utilizar objetos pessoais em cena, e imaginá-los em outros contextos que não o meu. Na verdade eu tenho muitos cacarecos úteis para cena e, agora que estou com reforma em casa, percebo que devo cuidar para não me tornar acumuladora, rs. A pergunta do exercício era: O que pode ser o conflito pelo qual passa sua máscara? Enquanto conversávamos eu e Sid sobre respostas possíveis, os objetos vieram do chão pra mão e da mão pra frente da câmera e de repente, tínhamos uma sala de estar.
Lilica foi pensada desde o começo para ser uma máscara infantil, por isso as bochechas enormes, o beicinho, o olhar atentado/birrento e a pintura jovial. Mas, por essa eu não esperava: fiz uma cena pré-adolescente. Hoje pensando, imagino que Lilica possa ser de todos os gêneros e ter de 3 a 17 anos, já que nossa colega Neo provou em cena que ela pode ser muito mais velha do que eu determinei quando esculpi.
Minha Lilica acabou por habitar o seguinte universo temático:
existência // solidão // autoimagem // mídia // explosão
música // rebeldia // paixão // raiva // destruição
Quando vi, durante a semana após essas aulas, estava relembrando de memórias difíceis de quando eu tinha 13 e 14 anos. Lembrei de como era ruim não compreender os outros e nem a si própria e de como era aterrorizante pensar não ser boa o suficiente para a vida. Essa semana foi muito importante pra mim.
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