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Diário de Bordo - Máscara Expressiva com Fábio Cuelli - 1ª semana


Olá gente, este blog surge da vontade de registrar e compartilhar esse projeto de estudos em máscaras teatrais com quem tiver interesse. Portanto, a cada semana publicaremos o diário de bordo dos encontros a partir de nossas anotações e pensamentos sobre o que é disparado nas aulas. Esperamos que faça algum sentido para todes nós, pesquisadores das máscaras. Boa leitura.


-Jeanne e Sid.


1ª semana - 04 e 05/09/2021


Sid: Chegamos no último módulo. Incrível como esse processo passou voando. A sensação que tenho é de que não tive tempo suficiente para trabalhar com as larvárias... Queria mais improvisações. mais tempo com o olhar da Claudia conduzindo o nosso processo. Talvez porque tenha me divertido muito durante, ou talvez porque algumas fichas de como as máscaras inteiras funcionam tenham caído, queria mais tempo para seguir testando e me desafiando nas criações.. bem, acho que isso vai ficar para depois... Mas é claro que tudo o que vimos até aqui é acumulativo e vai me ajudar nessa nova empreitada que são as máscaras expressivas. Jeanne e eu nos divertimos bastante durante o processo de construção dessas máscaras. Foram semanas e semanas a fio trabalhando em todos os processos desde a modelagem na argila até a pintura e os acabamentos.. uma baita experiência! e vermos nossas máscaras em cena durante as semanas de encontros foi muito gratificante também.


O professor Fábio Cuelli nos apresentou o seu mundo. Como ele vê e enxerga as máscaras expressivas. Ele como ator e escultor das máscaras do seu grupo de teatro, o Máscara EnCena (Porto Alegre/RS) tem toda essa bagagem e essa abordagem ao trabalhar com esse tipo de máscara, e a dividiu com a gente ao longo dos encontros. Escrevo esse relatório umas semanas após o fechamento das atividades, assim que o meu pensamento vai buscar por lembranças mais vívidas dos momentos vivenciados por mim e minha avaliação do processo vai estar mais apurada (assim acredito, rs) devido ao tempo que passou e pôde "decantar" em mim toda a informação e conhecimento aprendido desta experiência.


Lembro que a proposta de Fábio me causou um impacto por tudo ser muito menor e mais lento do que nos habituamos a trabalhar com a Larvária. Nos concentramos nas diferentes sensações que pisar com as diferentes partes dos pés nos causa, por exemplo. Ainda sem máscaras, internamente e sutilmente nos era indagado o que nos causa de sensação colocar o peso inteiro na ponta dos pés, ou nas bordas externas, e no calcanhar? Em outro momento, olhávamos para o espaço com a curiosidade e o interesse de quem estava vendo aquilo pela primeira vez e percebi que o que estava sendo suscitado ali era esse pensamento interno que a máscara deve sempre ter. Aquele texto interno, ou 'monólogo interior' que a máscara tem ao se relacionar com o mundo exterior. "As ações realizadas pelo interprete da máscara no palco são apoiadas por esse contínuo processo de pensamento, um constante comentário na voz do personagem. Esse comentário não escutado sublinha seu movimento, o que oferece claridade ao observador. O público lê o movimento por adicionar seu próprio comentário, preenchendo o processo de pensamento com sua própria voz, suas próprias palavras. Um processo o qual silenciosamente e frequentemente subconscientemente acontece sem parar." (Tradução minha do capitulo 3 do livro "The Mask Handbook: A practical Guide de Toby Wilscher).


Mas pode acontecer um problema. As sutilezas nos enganam. E logo estamos atuando com a máscara ao invés de simplesmente ser.


Persephone:


Escrevo esse relatório bem após o término da trabalho. Já é ano novo! Não é uma loucura como o tempo funciona? Ao ler meu relato, você se transportará para o passado, mas eu estou escrevendo para o futuro. Hoje é 17 de janeiro de 2022. A maior parte do projeto do LEMVI já foi executada. Mas preciso contar os momentos finais em doses homeopáticas, então aí vai.


O último módulo que trabalhamos foi sobre as máscaras expressivas inteiras. Estas são, de novo, de tradição europeia como as anteriores. Acredito que máscaras que se encaixam nessa categoria e também são usadas no Teatro têm presença na Europa desde a Grécia Antiga, ou ainda mais cedo... Mas as que o grupo Máscara EnCena (e consequentemente nosso prof. também) são inspiradas diretamente no grupo alemão Familie Flöz. Não quero dizer que o Máscara EnCena apenas utiliza esse tipo (inclusive recentemente utilizaram algumas com inspiração animal que me interessaram muito), mas sim que este foi o campo de pesquisa do módulo.

(Acima, personagens de algum espetáculo do Familie Flöz)

Por essas máscaras eu tenho um carinho especial. Ao esculpir duas das que utilizamos, achei a atividade especialmente divertida, já que eu conheço bem a estrutura de um rosto e deformar um a fim de conseguir um caráter específico gera boas risadas. Eu escolhi, das máscaras que tínhamos à disposição, a máscara infantil, que apelidei de Lilica.


O trabalho com essas máscaras, no primeiro final de semana, acredito, foi muito mais focado em preparação, embora tenhamos improvisado. E algo que ficou marcado em mim foi a atenção ao detalhes das coisas. Deixe-me explicar. Qual o efeito na sua postura/aparência/disposição/emoção quando desloca o peso em direção à frente dos pés? E para trás? E para o lado? Qual a diferença que provocada em seu estado quando olha para o canto favorito da sala? E o canto que mais odeia? Existem sutilezas com as quais convivemos o tempo todo e aprendemos a ignorar. Eu gosto de lembrar disso que me dei conta durante essas primeiras aulas do Fábio Cuelli. Lembrar que um detalhe, seja ele uma diferença na fisicalidade ou uma associação subjetiva, pode provocar no ser-atuante um estado específico. E não só um estado, mas também uma forma de existência um caráter. Você pode me dizer que isso já é um pressuposto quando falamos de um teatro fisicalizado como a máscara, mas a aula do Fábio brincou com os estados que eu descubro com o meu íntimo, com minha pessoalidade. Isso foi um modulador, com isso quero dizer que, enquanto na Larvária o movimento é mais aberrante, mais artificial (e por conseguinte, teatral), com essas máscaras humanoides estávamos muito mais próximes da expressão corporal que vivenciamos no dia-a-dia. Então trabalhamos muito sobre isso, sobre a disposição do corpo-mente em cena, baseando-se em não-atuar. Isso quase dava uma impressão de não fazer nada. Mas há algo muito tocante e quase enlouquecedor no universo das sutilezas.


Fizemos alguns trabalhos introdutórios para com a nossa máscara escolhida , vestimos pela primeira vez, improvisamos um pouco e treinamos algumas ações com elas.

Outra sutileza na qual entramos foi a respiração: essa máscara precisa muito disso. Ela é enorme e por isso, a respiração precisa acompanhar. É preciso até aumentar o movimento dela.

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