A Máscara, o Teatro e a importância do LEMVI
- lemvilaboratorio
- 21 de abr. de 2021
- 3 min de leitura
Há indícios pré-históricos do ato de mascarar-se que mostram que o intuito do disfarce convive com o ser humano há muito mais tempo do que se pensa. Desde um cheiro ou uma pele, os seres humanos sempre encontraram utilidade em passarem-se por quem não são. A máscara como objeto de representação humana, representação divina ou profana, está presente no teatro desde suas raízes e foi uma das bases para seu desenvolvimento no mundo. Algumas de suas funções: desde servir como elemento de interação com o plano dos deuses em rituais sagrados, transformando celebrantes em Deuses; ser um adereço de festas e comemorações pagãs; até no teatro, amplificando a voz do ator nas grandes estruturas teatrais gregas, acentuando traços expressivos das personagens, para proporcionar a fácil identificação do caráter. Em um teatro popular europeu do século XV, a Commedia dell’Arte, por exemplo, a máscara assume um papel de protagonismo, transformando atores em tipos, isto é, sugerindo personalidade, fisicalidade e status social das figuras presentes na ficção. No Ocidente, somente a partir do século XX, com contribuições de Jacques Copeau, Jean Dasté, Giorgio Strehler, Dario Fo, Amleto Sartori e principalmente Jacques Lecoq, a máscara adquire papel fundamental na formação e no estudo do corpo e do movimento no ofício da atuação.

Na década de 80, o retorno de brasileiros que tiveram contato com a cena europeia do teatro de máscara trouxeram ao Brasil o estudo da linguagem e do artefato. Herdeiros desse encontro cultural, consolidaram-se como referências brasileiras na área alguns grupos de teatro como o Barracão Teatro (Campinas/SP), o Moitará (RJ), o Tá Na Rua (RJ) e Ói Nós Aqui Traveiz (RS), entre outros. Embora possua grande valor para o trabalho da atuação e seja uma possibilidade estética na criação de espetáculos, ela não aparece – ou quase não aparece – inserida nos trabalhos desenvolvidos por grupos, escolas e cursos do estado de Santa Catarina e especificamente do Vale do Itajaí. Exceto por grupos que trabalham com palhaçaria (o nariz sendo a menor das máscaras) não podemos recordar e nem temos registro delas serem estudadas ou utilizadas como opção estética em uma encenação.
Por que uma linguagem tão fundamental e presente desde o que conhecemos como surgimento do teatro, é tão pouco explorada por nós atores e atrizes do Vale do Itajaí? Quais são os benefícios que a pedagogia da máscara traz para o desenvolvimento do ator? No encontro de interesses em comum dos atores e pesquisadores Sid Ditrix e Persephone Pepper, que tiveram seu primeiro contato com máscaras em situações e espaços diferentes (Buenos Aires e Campinas), surge a ideia da realização de um Laboratório que explore a utilização das máscaras, aprofunde a investigação individual de cada ator, agora compartilhada, e proporcione a artistas e estudantes das artes cênicas da região do Vale do Itajaí, o acesso a esta ferramenta de estudo do próprio corpo e de sua potencialidade expressiva.

Para isso, o projeto LEMVI aprovado pelo Prêmio Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura 2020, contará com a parceria e condução de pesquisadores da máscara teatral na coordenação dos encontros práticos e na orientação dos estudos teóricos. A diretora e pesquisadora Tiche Vianna, cofundadora do Barracão Teatro (Campinas/SP) coordenará os encontros dedicados a máscara neutra; a Profª Drª Cláudia Sachs, Coordenadora do Departamento de Arte Dramática da UFRGS (Porto Alegre/RS) e formada na École Internationale De Théâtre Jacques Lecoq, coordenará as atividades relacionadas com as máscaras larvárias; e o ator e mascareiro do grupo Máscaras EnCena Fábio Cuelli, conduzirá os trabalhos com as máscaras expressivas de rosto inteiro.

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